sexta-feira, janeiro 06, 2006

Alive

Citando Eddie Vedder, "I'm still alive". Por incrível que pareça.

Bom 2006 para nós.

sábado, junho 25, 2005

O Retorno

Depois de um longo e merecido recesso, o Maquinário está de volta. A banda do retorno é o "Retroverso", quarteto de Piracicaba que mistura o velho e o novo rock n' roll. Aproveite. Está logo abaixo.

É impressão minha ou vocês estão diferentes? Acho que foi o tal recesso...

Esta semana:

Retroverso - "O Quanto eu Posso Ser..." (2005)



É reincidente na música a recuperação de estilos anteriores. Prova disso é a safra de bandas do chamado "novo rock". Para quem não se lembra, essa história começou com os (sumidos) "Strokes", e hoje conta com os "experientes" "White Stripes" e os novatos "The Killers", "Libertines" e outras tantas, que trazem no som algo dos anos 60, 70 ou 80, devidamente remodelado. Não se pode negar, entretanto, que esse movimento pode supervalorizar a recuperação em detrimento a criação, gerando uma confusão conceitual e temporal nas bandas influenciadas pelos nomes acima citados. Fique claro que 'confusão' não é sinônimo de 'ruim', pois cabe a cada banda trabalhar a miscelânea musical disponível mundo afora.

A idéia tende a ficção científica. Como seria a mistura do rock n' roll setentista de, digamos, "Steppnwolf", com a releitura do mesmo setentismo feita pelos "Strokes"? Uma possível resposta é encontrada logo na abertura de "O Quanto eu Posso Ser", primeiro disco da banda piracicabana "Retroverso". Formado em 2004 por Marcelo Kamachi (Guitarra, Voz), Matheus Dante (Baixo), Rodolfo Perez (Baterista) e Cassiano Viana (Guitarra), o quarteto procura misturar estilos e suas releituras, sempre voltada ao rock. "A palavra Retroverso tem a intenção de passar a idéia de contraste de som antigo com novo e vice-verso", explica Marcelo Kamachi em entrevista ao Maquinário.

Gravado entre dezembro de 2004 e abril de 2005, "O Quanto eu Posso Ser" é um disco conciso. As guitarras distorcidas são a linha sobre a qual se desenvolve temas usuais como amor ou a cultural de massa. "Meu processo de composição é meio turbulento e lento", brinca Marcelo, e completa: "na realidade esse disco tem várias fases, que mostram essa mudança tanto em influências como nas coisas que fazemos e pensamos em vários momentos da vida". De maneira geral, é um disco quase confessional, alternando momentos de alegria e melancolia, leves e pesados.

A idéia de contrastar o novo e o velho permeia todas as composições, e fica óbvia nas faixas "A Mesma Canção" ou "Nos Olhos de Alguém". Entretanto, o rock n' roll clássico, baseado em riffs e guitarras pesadas é a tônica do trabalho. Bons exemplos são "A volta de um estranho", "Sem sermos nós mesmos" e "Perversão" - sendo visível nesta a influência o Black Sabbath da época de "Paranoid". As baladas são eficazes, e "Ao dia de ontem" ou "Vamos embora" são provas fáceis disso. As influências são claras, e seguindo a lógica de misturar originais e releituras, encontramos os Beatles em "Ando me esquecendo" e Oasis em "Pra me deixar levar" - uma das melhores do disco.

O "Retroverso" é uma boa surpresa de uma região onde o incentivo ao rock é praticamente escasso. "Há poucos lugares que uma banda cover possa tocar e para bandas que fazem som próprio simplesmente não existe", desabafa o vocalista. O bom acabamento - tanto visual quanto musical - de "O que eu posso ser", somado a interessante proposta da banda resulta não apenas num importante primeiro passo, mas numa ótima estréia. É o bom e velho/novo rock n' roll. E alguns ainda acreditam que ele precisa de salvação.

quarta-feira, maio 04, 2005

Extra:

Esta semana saiu no Poppy Corn uma crônica que escrevi sobre o show do Placebo em Campinas. Para ler, clique aqui.

domingo, maio 01, 2005

Esta semana:

Cérebro Eletrônico - Onda Híbrida Ressonante (2004) *



Há quase oito décadas Oswald de Andrade e Társila do Amaral trouxeram ao mundo o Manisfesto Antropófago. Ampliando os horizontes propostos pelo Manisfesto da Poesia Pau-Brasil, Oswald e Tarsila sugerem a digestão do que é influência exterior para criação de uma arte nacional. Isto ocorreu como eco da Semana de Arte Moderna de 1922, mas ainda hoje encontramos seguidores destes ideais. Como pregava o manifesto, "Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente". A banda paulista Cérebro Eletrônico, com certeza, adicionaria "musicalmente" ao manifesto.

Esta idéia da banda fica clara logo nos primeiros segundos de "Onda Híbrida Ressonate", primeiro trabalho da dupla Tatá Aeroplano e Fernando Maranho: o berimbau dá lugar à batida eletrônica que será, então, a coluna vertebral do disco. Assim como queria Oswald, em "Menina em Transe" - primeira faixa do disco -, os elementos externos - novos, neste caso - são digeridos, e ao final da música o berimbau retorna para dividir o espaço com a eletrônica. Depois de dado o recado, nos quase cinqüenta minutos que se seguem, encontramos uma mistura de MPB e eletrônica - que, embora pouco original, é bem feita -, além de uma retomada do tropicalismo - daí o nome da banda - mas que busca caminhos alternativos aos trilhados pelo movimento da década de 60.

É quase impossível evitar a comparação com o Mombojó, mas ao término de "Onda Híbrida Ressonate" percebe-se que - além de paulistas - a experimentação empreendida pelo Cérebro Eletrônico segue caminhos mais extremos: foram utilizados na gravação brinquedos, latas de filmes, sons de animais domésticos, pregos, liquidificadores, percussão corporal e pano de chão. E o resultado deste caos em potencial é ótimo, pois são estes sons que, além de rechear o álbum, dão características ao som do grupo. "Ar Condicionado", "Dê" - que podem ser vistas como poemas concretos musicados - e "Fibroplastia Reticular" são bons exemplos de como as canções se constroem.

Há alguns tropeços, pois nem sempre experimentações dão bons resultados. É claro, nada que estrague o trabalho. Por exemplo, as guitarras e violões de "O Dragão na Minha Garagem" deixam a música perdida em meio a atmosfera eletrônica construída até então; "Fantastic" - última faixa - não amarra o disco, e se parece apenas uma experimentação sem muito sentido. Em contraposição, os pontos altos são facilmente encontrados na citada "Fibroplastia Reticular", "Serge Gainsbourg x Coffin Joe" - a estranha mistura entre França (Serge Gainsbourg), Brasil (Coffin Joe = Zé do Caixão) e até EUA, pois parte da letra é em inglês - e "Primeira Pedra" - uma das melhores do álbum. É, então, um disco equilibrado, no qual pequenos deslizes não influenciam a audição.

Além da dupla Tatá Aeroplano (vocal e brinquedos) e Fernando Maranho (guitarra, programações e vocal), a banda conta com Dudu Tsuda (teclado e sintetizador), Gustavo Souza (bateria e percussão), Helena Resenthal (violão e backing vocal) e Izidoro Cobra (baixo e backing vocal). Entretanto, para a gravação de "Onda Híbrida Ressonante", a banda contou com as ótimas participações de Flávio Pluto (sax em "Jazza Muderno"), Gui Calzavara (trompetes em "Antropofagia" e "Dê") e Marcelo Monteiro Kim (flauta transversal em "Fibroplasia Reticular"). Isto sem contar mais outros oito músicos convidados que se espalham ao longo do disco, e fizeram, junto aos demais, com que Oswald respirasse aliviado.

* Resenha publicada no site Poppy Corn. Entre lá e leia também a entrevista com a banda.

quarta-feira, abril 13, 2005

Esta semana:

Death From Above 1979 - You're a woman, I'm a machine (2004)



Foi-se o tempo do power trio. A moda agora é outra, e veio para subverter a ordem hermética do rock'n'roll. No ano 2000 nasceu em Nova Iorque, para desespero de alguns, o White Stripes, no qual o duo Meg e Jack White (bateria e guitarra, respectivamente) dispensava o contra-baixo. Narizes torcidos à parte, a idéia estava lançada, e contrariando algumas expectativas, a dupla seguiu em frente, somando quatro discos na mochila e presença marcada em festivas como Reading Festival e outros tantos mundo afora.

A última novidade do gênero vem de Toronto, Canadá, e atende por Death From Above 1979, ou, para os mais íntimos, DFA 1979. A dupla Sebastien Grainger e Jesse F. Keeler (baterista/vocalista e baixista, respectivamente) dispensa a guitarra, utiliza eventualmente um teclado e, mesmo assim, consegue neste primeiro trabalho, "You're a Woman, I'm a Machine", sonoridades que nada devem ao clássico trio guitarra/baixo/bateria. Assim, a estética minimalista, ao contrário dos irmãos White, não causa aquela primeira sensação de faltar algo. É quase possível, em alguns momentos, encontrar guitarras nas músicas do DFA 1979. E altamente distorcidas, diga-se de passagem.

Esta excentricidade instrumental e, conseqüentemente, sonora, acaba por chamar a atenção de admiradores dos mais variados estilos. A tendência índie que retoma - descaradamente em alguns casos - os anos sessenta abre espaço para uma levada mais pesada, baseada em riffs distorcidos que tendem ao metal, e a baterias com tempos duplicados que nada devem ao punk. Logo em "Turn it Out", faixa que abre o disco, os ruídos que se intercalam com o baixo mostram os rumos da dupla canadense. E se alguém ainda duvida da capacidade de unir boas melodias e distorções, é só deixar o CD rodar até "Romantic Rights". Soará clichê, mas é impossível ficar parado ouvindo esta música.

Quer dizer, não apenas "Romantic Rights" impossibilita o ouvinte de ficar sentado. "Going Steady" e "Go Home, Get Down" são diretas, pesadas e confirmam todas as expectativas deixadas por "Turn it Out". Há pontos que tendem a mostrar o lado mais experimental da banda, nos quais são explorados os (eventuais) teclados e duas ou três linhas de baixo simultaneamente. "Black History Month" é recheada de sons e variações na bateria que acabam por diferenciá-la em meio as outras composições do disco; "Sexy Results", que fecha o trabalho, sobrepõe bateria, percussão e uma voz quase sussurrada, e por isso se coloca ao lado de "Black History Month" no que diz respeito a experimentação.

De maneira geral, o disco da dupla canadense é uma pancada certeira e potente. "Blood on our hands", "Little Girl" e 'Cold War" são apenas alguns exemplos de um álbum pesado, bem trabalhado e inventivo. E não estranhe o fato de eles serem do Canadá, assim como o ótimo Arcade Fire ou The Dears (que vocês logo ouvirão falar). Existe por lá um programa governamental de incentivo a indústria musical do país, o "Canada Music Found". Acho que nem precisa perguntar se funciona. Por isso, o White Stripes que se cuide.

terça-feira, abril 05, 2005

Esclarecimento

Esta semana, aquela corda no pescoço apertou um pouco mais. Então, sem ar e sem tempo, não puder escrever a resenha desta semana. Todavia, prometo atualizar o Maquinário assim que possível. Algumas resenhas estão quase prontas, por isso acredito publicar material novo sem demora.

A propósito, obrigado pelas 1000 visitas.

Até mais

domingo, março 27, 2005

Esta semana:

Pata de Elefante - Pata de Elefante (2004)*



A simplicidade pode surpreender. Sei que, em se tratando de música, tal afirmativa pode levantar os cabelos de muitos fãs do rock progressivo, assim como tirar aplausos de punks, mas é verdade. E neste primeiro trabalho da banda Pata de Elefante, a simplicidade é surpreendente e gratificante. Nascida em Porto Alegre no ano de 2002, a banda formada por Gabriel Guedes (guitarra e baixo), Gustavo "Prego" Telles (bateria) e Daniel Mossmann (guitarra e baixo) tem como principal característica a versatilidade. E esta, originada por uma necessidade, é a responsável pela primeira surpresa do disco: num só trabalho temos, pelo menos, duas bandas diferentes, com trejeitos marcantes e bem delimitados. E acredite: a idéia é simples.

Muito se espera dos músicos de uma banda que se propõe a ser instrumental. Assim, a dedicação de cada integrante a seu instrumento é levada - em alguns casos - a níveis obsessivos. Entretanto, com o Pata de Elefante, a história foi um pouco diferente. Quando formada, a banda contava com dois guitarristas, mas nenhum baixista. A necessidade deste instrumento levou tanto Gabriel Guedes quanto Daniel Mossmann a repartirem suas atenções entre as guitarras e contra-baixo. E aqui se esconde um dos maiores - e melhores - segredos do Pata de Elefante. Os dois músicos se revezam entre guitarras e baixos durante as quinze faixas do disco, criando, cada um a sua maneira, atmosferas diferentes entre si. A grosso modo, as guitarras mais introspectivas ficam a cargo de Daniel Mossmann, enquanto as "agitadas" são de responsabilidade de Gabriel Guedes.

Segunda surpresa. Há muitas pessoas que simplesmente não gostam de música instrumental. (Mais cabelos em pé, certo?) A falta de voz é capaz de afastar muita gente de boas bandas, e com certeza este deve ser um mal que aflige o Pata de Elefante. Todavia, é preciso atenção para perceber que, digamos, falta alguma coisa nas músicas da banda gaúcha. O power trio explora bem todas as canções sem torná-las chatas. Ou seja, longe de esnobismos e virtuosismos desnecessários, os arranjos são bem feitos, e os músicos mostram suas qualidades nos detalhes de cada faixa. E, além dos três membros, a banda contou com as participações de King Jim (sax), Leonardo Boff (teclado), Luciano Leães (piano elétrico), Lúcio Vassarath (cítara), Alexandre Loureiro e Vicente Guedes (maracás), que preenchem as canções na medida certa. A voz, assim, se faz desnecessária, e os quase sessenta minutos de música passam de uma só vez.

As influências da banda também colaboram muito para que o trabalho seja facilmente digerido. Os anos sessenta e setenta são a principal fonte na qual o Pata de Elefante bebe sua água. Então, não por acaso encontramos o Ventures na faixa "Gato que Late", Hendrix em "Não esqueça o remédio" e Funkadelic em "Pata de Elefante". E essa é a terceira surpresa. Cada uma destas influências é esmiuçada e transformada ao longo do disco, de maneira que é mantida a unidade do trabalho, mesmo com a diversificação de estilos - não apenas musicais, mas dos próprios músicos. Por isso, a transição de uma levada funk ("Funkdelic") para uma surf-music ("Não fique triste") soa natural, e a oposição de estilos não causa estranheza ao ouvinte.

Isto posto, o reconhecimento em festivais como Bananada (Goiânia) e II Super Noites Senhor F (Brasília) é apenas o começo para o Pata de Elefante. Tanto a versatilidade como a qualidade da banda são os ingredientes não apenas para um bom disco, mas para um bom disco instrumental que não cai (como dizem) na mesmice chata de músicas sem fim. As influências são as melhores possíveis, e sua utilização é, em certa medida, equilibrada. A simplicidade que permeia o trabalho do Pata de Elefante dá originalidade ao trio, e esta é a maior surpresa deste disco, pois não são poucas as bandas hoje que andam pelos mesmos anos sessenta e setenta e parecem perdidas no tempo.

* Resenha publicada no site Poppy Corn

domingo, março 20, 2005

Esta semana:

Lou Barlow - Emoh (2005)



Desde meados da década de oitenta, quando começou sua carreira, Lou Barlow é um compositor compulsivo. Mesmo quando integrante do Dinossar Jr. - no qual o principal compositor era J Mascis -, Lou compunha. E por não haver espaço para dois compositores, a maioria das canções de Lou eram registradas pelo mesmo de maneira simples, voz e violão num gravador de quatro canais, sendo que parte destas fitas eram enviadas para Eric Gaffney, incumbido de colocar as baterias (não por acaso, então, ele se tornaria o futuro baterista do Sebadoh, ficando na banda de 1989 a 1993). E assim nasceu o Sebadoh, que, ao lado do Pavement, foi uma das principais bandas independentes da década de noventa. E este foi apenas o início.

A dicotomia Dinossar Jr/Sebadoh chega ao fim em 1988, e, em 1990, sai "Freed Weed", uma espécie de coletânea das demos do Sebadoh com quarenta (!) faixas. A partir deste momento começa, definitivamente, a carreia do Sebadoh, que, em 1993, com o lançamento de "Bubble & Scrape", coloca a banda entre nomes como o próprio Pavement, Guide by Voices e Yo la Tengo. Entretanto, isto não foi o suficiente para conter Lou Barlow. Ele queria mais. No mesmo ano cria o "Sentridoh", um projeto solo no qual mantinha a linha 'lo-fi'/indie rock do "Sebadoh", e no ano seguinte, com John Davies, forma o "Folk Implosion".

Em 1995, além do sucesso que alcançado pelo "Folk Implosion" graças a música "Natural One" - que fez parte do filme "Kids" -, ele lança com o "Sentridoh" dois álbuns: "Losing Losers" e "Lou Barlow and His Acoustic Sentridoh". É claro que, com o tempo, mudanças ocorreriam, afinal, Lou precisaria de um dia com no mínimo 48 horas para manter todos esses projetos no mesmo nível. Assim sendo, desde 1999 o Sebadoh não dá as caras, mas também não anuncia seu fim; em 2002 saiu "Free Sentridoh Songs from Loobiecore"; John Davies deixou o "Folk Implosion", e Lou rebatizou a banda como "The New Folk Implosion", lançando um disco homônimo em 2003. E para quem pensou estar no fim o gás de Lou Barlow, em janeiro de 2005 chegou "Emoh", primeiro disco no qual o artista assina com o próprio nome.

Primeiro ponto importante deste disco: o 'lo-fi' que consagrou não apenas o Sebadoh, mas também o Sentridoh, foi deixado para trás. Isto é perceptível logo na primeira faixa - "Holding Back the Year" -, na qual a voz de Lou está em primeiro plano, clara e cristalina. A parte instrumental também é bem cuidada, e os violões que permeiam todas as canções são acompanhados por ruídos e tratamentos de estúdios impensados no Sentridoh, por exemplo. Tudo isso é confirmado nos créditos do álbum, pois oito canções foram cuidadosamente gravadas sob a supervisão de Mark Nevers e Wally Gagel, e outras seis, mesmo gravadas na casa do próprio Lou, ficaram longe dos quatro canais. Muito embora o clima intimista que transpassa a carreira do músico permaneça, ele está polido e bem trabalhado. Não apenas "Holding back the year", mas também "If I Could" e "Confused" são bons exemplos deste fato.

A simplicidade das letras é outro ponto sempre presente nas composições de Lou. Entretanto, neste disco, em decorrência da produção limpa e bem feita, elas (as letras) ganham força por ficarem em primeiro plano como a voz, e versos como "away, alone, look out/The birds, like me, want you now", de "Caterpillar Girl", emocionam pela simplicidade do como tal declaração é feita. Num disco intimista e subjetivo como este é difícil encontrar canções que se destaquem, pois cada uma delas, mesmo diferentes entre si, se complementam, e resultam no artista como um todo. Mas caso precise escolher quais ouvir, "Lengedary", a singela "Puzzle" e a citada "Caterpillar Girl" dão uma amostra do que escrevi até aqui.

Por fim, o que mais chama a atenção em "Emoh" é que Lou Barlow parece não se esgotar. Compositor incansável, suas canções tendem a explorar o que há de simples na vida. E mesmo que ande na linha entre a singeleza e a pieguice, seus passos firmes o impedem de cometer erros que vemos em discos e mais discos lançados mundo afora. Dizer que "Emoh" é mais do mesmo seria mentira, pois embora encontremos o Lou de sempre, "Emoh" mostra mais. E por isso é de se esperar algo de um artista como Lou Barlow: ele atende as expectativas, seja quantas for.

domingo, março 13, 2005

Esta semana:

Retrofoguetes - Ativar Retrofoguetes (2004)



Ficção científica. Personagens de Isaac Asimov e o espacial circo de Moscou. Robôs gigantes e invações alienígenas. Não haveria outra maneira de colocar todos estes ingredientes em um só disco se não através da surf-music. Com um toque de rockabilly, é claro. E psychobilly também. Esqueci do Flash Gordon e de uma certa influência mexicana. O negócio é escutar e procurar todas as possibilidades e influências contidas neste "Ativar Retrofoguetes", primeiro disco da banda de surf-music baiana "Retrofoguetes".

A história do trio começou quando o vocalista do "The Dead Billies", Moskabilly, resolveu seguir carreira solo. Até aqui a banda acumulava dois discos na bagagem ("Don't Mess With... The Dead Billies" e "Heartfelt Sessions") e participações em festivais como Abril pro Rock e Goiânia Noise. Após a baixa, no início de 2002 os remanescentes Joe (baixo), Morotó (guitarra) e Rex (bateria) optaram por continuar tocando, e criaram a banda instrumental "Retrofoguetes". Entretanto, antes da formação se fechar, o baixista Joe foi tocar com a Pitty, deixando lugar para CH, o último elemento deste power trio. Pendendo para a surf-music, mas mantendo um pé rockabilly e psychobilly da antiga banda, o "Retrofoguetes" ainda trouxe do "The Dead Billies" toda a temática ficcional e um forte apelo visual para seus trabalhos.

Lançado em 2002, "Protótipo de Demonstração nº1" foi o primeiro EP do "Retrofoguetes". Visto quase como uma trilha sonora para um filme de ficção científica, "Protótipo..." possui quatro canções que entraram neste "Ativar Retrofoguetes", e dá aos antigos fãs do "Dead Billies" uma amostra de qual seria o futuro da nova banda. A produção, tanto do EP quanto do disco foi assinada por Nancy Viegas e andré t., e as influências da surf-music da década de 60 (entende-se Beach Boys, Ventures e Dick Dale) vistas em "Protótipo de Demonstração nº1" são aprofundadas nas dezenove faixas que compõe este primeiro disco da banda.

Nos pouco mais de quarenta minutos de álbum, a banda passeia não apenas pelos filmes de ficção científica ou seriados japoneses (origem do nome da banda e do disco), mas também por temas mexicanos ("Roswell" e "Night of Excess"), polca ("O Início do Espetáculo") e eletrônicos anos 80 ("Warp"). A produção deixa sua marca no som através de pequenos ruídos e barulhos que se encaixam ao longo das músicas, criando ambientes e detalhes que não apenas amarram o disco, mas que muito contribuem para a identidade visual, uma das principais características da banda. Isto é facilmente percebido nas faixas "O Carrossel do Inferno" e "Monga, Meu Amor".

Mas nada adiantaria se o trio não segurasse o tranco. O entrosamento entre o baixo e a bateria fazem o caminho de efeitos e solos e experimentalismos da guitarra muito mais fácil. Ora distorcido ora quase imperceptível, o baixo de CH é quem dita o andamento das músicas, ao lado da bateria certeira de Rex. As guitarras de Morotó Slim são um caso à parte, como em todas as bandas de surf-music que se prezem. A melhor maneira de entender o funcionamento deste trio é a faixa "A Fantástica Fuga de Magnólia Pussycat", composta à partir de uma perseguição no quintal da casa de Morotó para captura de sua gata, e na qual a banda mostra sua capacidade musical sem medir forças.

Enumerar aqui todas as influências e citações encontradas ao longo de "Ativar Retrofoguetes" seria extremamente complicado e, com certeza, chato de ser lido. Por isso, guardo as surpresas a quem se arriscar a entrar neste filme (sci-fi, é claro) estrelado pelo "Retrofoguetes". Ou seria uma história em quadrinho? Ou um livro de ficção científica? Ou um seriado Japonês? Fato é, não haverá arrependimento algum. No mínimo, alguns bons momentos de diversão, como toda boa surf-music pode proporcionar. Ou seria rockabilly? Ou polca? Ou psychobilly? Escute o disco, e descubra você mesmo.

domingo, março 06, 2005

Esta semana:

Charlie Brown Jr. - Tamo aí na atividade (2004)



Que o Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., já se meteu em algumas encrencas não é segredo para ninguém. A última delas foi em um aeroporto no Rio de janeiro, quando ele discutiu e trocou algumas pancadas com Marcelo Camelo, guitarrista e vocalista do Los Hermanos. A causa da pancadaria foi, segundo consta, uma crítica feita por Camelo quanto ao fato de Chorão & Cia terem feito um comercial para a Coca-Cola. E este fato, de certa maneira, expõe uma contradição no que a banda diz em seus discos e o que ela faz com sua carreira.

Durante o ano de 2004 foi vinculado um comercial da Coca-Cola no qual o Charlie Brown Jr, ao melhor estilo Jota Quest, demonstrava suas qualidades de garotos propaganda. No tal comercial a banda distribuía garrafas para as pessoas da platéia que não possuíam uma, e ao final todos estavam igualmente felizes com sua Coca-Cola na mão. Fato é que, após algum tempo, um grande debate sobre postura do Charlie Brown Jr. tomou conta do mundo da música, acirrando o embate entre os fãs e não fãs da banda. Se por um lado a banda cantava a plenos pulmões "Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério/O jovem no Brasil nunca é levado a sério" no refrão da música "Não é sério", por outro, estava na própria televisão, no mínimo, não levando o jovem à sério.

É claro, não cabe a ninguém julgar os meios pelos quais as pessoas ganham seu dinheiro, por isso nenhum tipo de crítica deveria ser feita a banda sem antes olharmos para o próprio umbigo. Entretanto, a coisa não funciona assim. O lado positivo é que, no ciclo normal da mídia, depois de render capa de jornais e revistas, o assunto foi substituído por outro, e o Charlie Brown Jr. lançou, como de costume, mais alguns discos. Mas somente após o lançamento deste "Tamo aí na atividade" percebemos que nem todos superaram aquele fato.

Mesmo rebatendo todas as críticas dirigidas a ele, Chorão mostra ter sido assombrado durante noites e mais noites de sono, e acabou sendo vítima de uma crise de personalidade, amplamente encontrada neste novo trabalho da banda. Vale dizer: este não é o principal problema deste sétimo disco do Charlie Brown. Posterior a um improvável acústico MTV, "Tamo aí na atividade" acaba tropeçando nas mesmas pedras que encontram pelo caminho bandas com longa carreira ou muitos discos lançados: a repetição.

A arte de se reinventar é para poucos. Portanto, por mais que o Charlie Brown Jr. cada vez mais se pareça uma cópia de si mesmo, não podemos condená-los por este pecado. A culpa da falta de criatividade é amenizada devido ao fato de as gravadoras exigirem não apenas um disco por ano, mas um disco de sucesso por ano. Então, aquela velha máxima que diz que 'em time que está ganhando não se mexe' acaba entrando em campo, ou melhor, em estúdio, restando a nós ouvintes a sensação de já termos ouvido aquela música em algum lugar. Não por acaso, músicas como "Eu Vim De Santos, Sou Charlie Brown", "Longe de você" e "Lixo e o luxo" deste novo disco entrariam facilmente no acústico lançado ano passado, assim como "Champanhe e água benta" ou "Todos iguais" estariam em qualquer outro disco do grupo de Santos.

Ou seja, musicalmente o Charlie Brown Jr. pode até agradar, mas não surpreender. Tudo o que a banda já produziu até hoje está neste trabalho, sem muita experimentação e/ou novidade. Nas letras percebemos a tal crise de Chorão, dada a grande - e até chata - repetição de adjetivos autodepreciativos, afirmando a condição de malandro do vocalista. A balada "Vivendo nesse absurdo" pode ser encarada como uma exceção em meio as quinze músicas que compõe o álbum - sendo que destas, quatro são vinhetas, artifícios bem utilizados pela banda em seu disco de estréia "Transpiração Contínua Prolongada", de 1997. Fora ela, ao longo deste trabalho, mesmo nas vinhetas, palavras como "Sk8" - abreviação para Skate -, "malokero" (sic), "pobre", "vagabundo", "quebrada" e algum tipo de ataque contra os "playboys" são usadas a exaustão. Até o Spike Lee acaba entrando nesta.

Quer dizer, a necessidade de se impor como pobre e fudido de Chorão, ao que parece, está alcançado patamares preocupantes. Quase uma obsessão, na verdade. Faixas como "Tamo aí na atividade", "O errado que deu certo" e "Malokero Sk8 Board" são provas cabais apenas por seus títulos. Talvez para se desvincular da imagem deixada pela tal propaganda, talvez um mero desabafo: não há como saber o que está se passando pela cabeça do vocalista do Charlie Brown Jr. Como não sou psicólogo ou coisa do gênero, apenas torço para que Chorão consiga se resolver consigo mesmo. E para que a banda consiga encontrar um novo caminho e fugir da mesmice que começa a atrapalhar, é claro.

domingo, fevereiro 27, 2005

Esta semana:

Funk Como Le Gusta - F.C.L.G. (2004)*



Que a lógica de mercado é injusta todo mundo sabe. Bandas são criadas, jabás distribuídos e programas de domingo enfiam goela abaixo a nova sensação do verão. E, de certa maneira, somos obrigados a engolir o velho-novo som das paleozóicas bandas do cenário brasileiro e mundial e outras tantas besteiras. Entretanto, em momentos de rara sorte, encontramos bons trabalhos que muitas vezes são simplesmente ignorados por quase todos, talvez por desconhecimento ou comodismo. Independentemente da causa, fato é que não vemos a luz no fim do túnel por estarmos de olhos fechados, e se continuamos a engolir besteiras, a culpa é nossa.

Então, não por acaso, poucos conhecem o Funk Como Le Gusta. Banda paulista formada em 1998, ainda no mesmo ano ganhou certa notoriedade devido aos shows que fazia às quartas-feiras num local chamado Espaço Anexo, onde ocorriam as mais variadas "jam-sessions" com nomes do calibre de Marcelo D2, Dj Marky, Daúde, Thaíde e Dj Hum, Sandra de Sá e Otto. Contando com 12 músicos, a big-band sempre fez um som tendendo ao funk e ao groove, misturando a eles elementos latinos. Não demorou para que fosse lançado o primeiro trabalho, e em 1999 "Roda de Funk" veio ao mundo contando com participações de Fernanda Abreu e Black Alien do Planet Hemp. Mas dada a pouca divulgação, o disco não recebeu o reconhecimento que merecia.

Seguindo os passos de seu antecessor, o novo trabalho da banda, intitulado apenas “F.C.L.G.”, foi lançado em 2004, mas até agora foram poucos os comentários a seu respeito. Durante o período entre um disco e outro, a banda passou por alterações em sua formação que, por sua vez, acabaram mudando também o processo de gravação. A principal diferença técnica entre os trabalhos é a maneira pela qual foram gravados. Muito embora sejam mínimas as diferenças, "F.C.L.G." foi registrado de maneira convencional, sendo gravado um instrumento de cada vez; "Roda de Funk", como propõe o próprio nome, foi gravado ao vivo, numa roda feita pelos músicos no próprio estúdio. Acontece que depois de terminada a primeira música deste novo trabalho, uma constatação é naturalmente feita: as pequenas diferenças técnicas não refletem as mudanças pelas quais passaram o som da banda.

Mesmo mantendo ritmos dançantes como funk, groove e o samba-rock, este novo trabalho traz algumas inovações ao som da banda. A introdução de elementos eletrônicos talvez possa ser apontada como uma das melhores - e até esperadas - surpresas deste novo álbum. Logo na faixa que abre o disco, "S.O.S", há pequenas linhas eletrônicas que fazem o acabamento da música; em "Vertiplano" são as eletrônices que guiam a canção por seus quase quatro minutos. Ou seja, muito antes de transformar o som da banda, este novo elemento deve ser visto como uma possibilidade a ser explorada. E temos aqui um bom começo. Mas não só a música eletrônica ganhou espaço na salada musical da banda. Para dar um sabor diferente, o choro (!) é também um novo elemento inserido neste trabalho, mesmo sendo mais influência do que tendência. Antes de gastar palavras e mais palavras tentando explicar como funciona tal fusão, o melhor mesmo é indicar a faixa "Aos trutas", que, além de substituir qualquer explicação, é uma da melhores do disco.

Os ritmos latinos, que desde os primeiros shows era característica marcante da banda, podem ser encontrados em "Latina", segunda faixa de "F.C.L.G." O funk, é claro, está presente em todo o disco, mas em intensidades e maneiras diferentes. Em "Somos do funk" e "Tá chegando a hora" há uma levada mais calma do gênero, enquanto "Drive In" e "Besame Mama" são mais dançantes - sendo que esta (música de Mongo Santamaria) possui elementos latinos que lembra o CD anterior. Da mesma maneira, o samba-rock de Jorge Ben Jor continua ainda presente no som da banda, e "A Nêga e o Rebolado" deixa tal afirmação mais que provada.

Quer dizer, o túnel existe, e a luz está lá, mesmo que não a vejamos. O importante é busca-la. Sorte de quem descobriu o Funk Como Le Gusta antes, sorte de quem descobriu agora, pois a escuridão já não é mais a mesma. Por isso, mesmo que seu gosto não aceite muito bem o funk ou o groove ou o samba-rock deste "F.C.L.G.", ele vale a pena apenas pela descoberta e reabastecimento da esperança de um mundo musicalmente melhor.

*Resenha publicada no site Poppy Corn

domingo, fevereiro 20, 2005

Esta semana:

Cat Power - The Covers Record (2000)*



Somos influenciados todos os momentos de nossas vidas, em múltiplos sentidos. Não há como escapar, pois muito antes de nós já existiram outros, e mesmo que os tempos mudem constantemente, há sempre algo que fica e nos marca. Em se tratando de arte, então, a intensidade é ainda maior. Na verdade, pensar em música e não pensar em influência é uma tarefa, no mínimo, ingrata, pois não levará a lugar nenhum. Portanto, e sabendo disso, alguns artistas resolvem prestar homenagens aqueles que contribuíram para sua formação, e mesmo sendo tal coisa um clichê com 'c' maiúsculo, há quem consiga fazer disso algo interessante. São poucos, mas existem, mesmo que por detrás de um pseudônimo.

Chan Marshall, também conhecida como Cat Power, assim como tantos outros artistas, resolveu prestar uma homenagens aqueles que, de certa maneira, acabaram influenciando sua carreira. Não seria muito difícil adivinhar alguns nomes que entrariam na lista de influências, por isso não é este principal ponto de "The Covers Record", o quinto disco da cantora de Atlanta. A capacidade de Cat Power de se apropriar das canções é o que mais chama a atenção neste disco. A transformação promovida em "Satisfaction", dos Rolling Stones, por exemplo, é tão bem feita que, apesar de não lembrar em nada a versão original, é tão boa quanto aquela. Na verdade, acaba se tornando uma nova canção, e tal fato acaba distanciando todos aquelas narizes torcidos que surgem quando o assunto é música cover, principalmente de nomes como Bob Dylan, Velvet Underground ou mesmo Mick Jagger & Cia.

Com apenas um violão, pianos ocasionais e sua voz melancólica, Cat Power busca suas influências no gênero que é a base de sua música: o folk. Não sem querer, então, o violão é onipresente por todo o disco, assim como músicas de Michael Hurley - figura carimbada da famosa cena folk de Greenwich Village -, ou Moby Grape - banda californiana da década de 1960 que, muito embora estivesse fortemente vinculada ao psicodelismo, trazia influências do folk e blues. Há espaço para nomes mais conhecidos do grande público como os acima citados Dylan ou Velvet Underground de Lou Reed.

É claro, sendo ou não de nomes conhecidos, as canções, após passarem pelas mãos de Cat Power, se tornam dela. Por isso, a grande sacada do disco é ouví-lo não como um disco de covers, como propõe o título, mas como um disco da própria Chan. Canções como "Kingsport town" e "Paths of victory" perdem a voz anasalada de Dylan e ganham os contornos delicados da voz de Marshall, assim como a própria "Satisfaction", dos Stones ou "I found a reason", do Velvet Underground. De Michael Hurley, Cat Power gravou "Troubled waters" e "Swee dee dee", ambas do álbum "Armchair Boogie", lançado pelo cantor em 1970. Do quinteto Moby Grape foi escolhida "Naked if I want to", do disco lançado em 1967 intitulado apenas "Moby Grape", primeiro da banda. Nomes como Nina Simone e Phil Phillips & the Twilights, proeminentes na década de 1930, também aparecem neste trabalho, fechando o álbum.

Há um ponto curioso e um emocionante neste "The Covers Records". O ponto curioso é a música "In this hole". Apenas no piano, é, com certeza, umas das melhores faixas do álbum, entretanto, diferente do restante do disco, esta é uma música da própria Cat Power, que faz parte do disco "What Would the Community Think", lançado em 1996, e responsável pela primeira grande exposição da cantora e compositora. O ponto emocionante é a interpretação de "Red apples", música do Smog, pseudônimo de Bill Callahan, um dos nomes mais chamativos do mundo alternativo lo-fi da década de 1990. Conhecido por seu minimalismo e melancolia, não haveria melhor escolha de Cat Power para o repertório de covers. "Red apples" é apenas voz e piano para versos como "I slept in her black arms/For a century/She wanted nothing in return"

"The Covers Record" é, em poucas palavras, a homenagem de Cat Power a todos aqueles que de alguma maneira a influenciaram. Até Chan Marshall recebe sua homenagem, afinal, é uma das influências mais importantes para Cat Power, sem dúvida. Cada canção deste "Covers records" é uma homenagem simples, suave e melancólica, mas, antes de tudo, original, pois não é para qualquer um se apropriar de clássicos com tamanha personalidade. É para quem pode.

*Resenha publicada no site Dying Days

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Extra:

Nirvana - From the Muddy Banks of the Wishkah (1996)



Este não é o primeiro disco póstumo do Nirvana. Lançado em Novembro de 1994, o "Unplugged in New York" foi o primeiro registro da banda lançado após a morte de Kurt Cobain em Abril do mesmo ano. Mas não é surpresa para ninguém que assim como este disco, muitos outros chegarão ao público, e a caixa “With the Lights Out” não me deixa mentir. Já foi comprovado com pessoas como Elvis ou Lennon que a rentabilidade aumenta muito mais após o falecimento do membro mais saliente da banda, e que o status de ídolo fica quase inabalável e, principalmente, intocável. Então, nada melhor do que lançar discos com vendas garantidas. É só colocar o nome do elemento ali, algumas músicas conhecidas uma ou duas inéditas ou regravações ou sobras de estúdio e temos um ótimo negócio, pois lançamentos assim não vendem apenas o disco lançado, mas toda a discografia do artista ou da banda da qual fez parte. Exemplos? “Elvis 30 #1 Hits” , John Lennon Accoustic, e o próprio Nirvana com a coletânea que tinha como chamativo a inédita "You Know Your Right".

Assim, ao nos depararmos não apenas com "From the Muddy Banks of the Wishkah", mas com qualquer outro lançamento póstumo, é importante ter em mente que pode ser uma armadilha, e que nós, frágeis fãs, somos presas fáceis. Quem não resistiu e comprou este disco do Nirvana entende o que quero dizer. A concepção do trabalho começa pelo título. Uma tradução aproximada seria "das margens lamacentas de Wishkah", sendo que "Whishkah" é um rio que passa por Abeerden, cidade natal de Cobain. Ou seja, o disco em mãos nos levará do passado lamacento da banda até o mar aberto no qual chegou. Se navegar é preciso, este disco é um exemplo de como vencer as tormentas da industria fonográfica, saindo do então inconstante underground para adentrar as águas aparentemente calmas do mainstream. E se esta é a proposição do disco, ele cumpre com o que é prometido. Todavia, qualquer um poderia fazer o trajeto da banda sem a necessidade de um disco especificamente para isso. Bastaria colocar "Bleach" para rodar e só sair do quarto após a última nota de "Where did you sleep last night", do Unplugged. Por isso, pelo menos uma recompensa por encarar o trajeto do disco deveríamos ganhar.

Entretanto, o prêmio é mínimo. "From the muddy..." é, em poucas linhas, um apanhado de canções ao vivo já conhecidas da banda. Seguindo a proposição do título, há "Intro", "Polly" e "Breed" de 1989. Ou seja, vamos mesmo das origens da banda até seus dias finais, mas pelo caminho mais seguro. Para gravadora, é claro. De início podemos até acreditar que teremos grandes surpresas pela frente, pois o disco começa com uma passagem de som cheia de gritos e distorções, mas dura pouco mais de cinqüenta segundos e só. À partir daí nos deparamos com músicas mais do que conhecidas, e mesmo nestas versões ao vivo elas não fogem muito da original. "Lithium", "School" e até "Smells Like Teen Spirit" entram nesta primeira parte do disco, para (ingrata) surpresa daqueles que sabem o pé no saco que se tornou "Smells like..." após várias e várias repetições diárias quando do lançamento de Nevermind. Para não dizer que esta é uma opinião pessoal, sugiro que assistam o vídeo "Live, Tonight, Sold Out", onde o próprio Cobain se nega a tocar a canção, ou a brincadeira que ele faz no famoso programa britânico "Top of the tops", cantando-a como se cantasse ópera. Mesmo a banda estava de saco cheio de "Smells Like...".

A segunda parte do disco começa com algo animador. A nona faixa do disco é a oficialmente inédita "Spank Thru", uma velha composição de Cobain que perdurou toda a carreira da banda. É uma daquelas músicas que mesmo não estando entre as melhores, seu compositor tem grande apego por ela. Distorcida ao melhor estilo Nirvana, com certeza agradou muitos fãs que não a conheciam, visto sua presença em alguns poucos "bootlegs", numa versão não tão pesada quanto a que consta neste disco, gravada em Roma, durante a turnê de Nevermind. Ânimo restabelecido para uma seqüência "In Utero" de "Scentless Apprentice", "Heart-Sharped Box" e "Milk it". Boas músicas de estúdios nem sempre são boas músicas ao vivo, mas dado como "In Utero" veio ao mundo, não haveria maneira destas canções saírem ruins numa apresentação ao público. Elas preparam bem os ouvidos para "Negative Creep", uma das mais pesadas da discografia da banda.

Quase no fim há mais uma surpresa ainda. A famosa "Polly" voz e violão de Nevermind, que também já foi ao extremo oposto em "Incesticide" com guitarras e baterias em altíssima velocidade, ganha aqui um meio termo. A gravação foi feita em 1989, com Chad Channing na bateria, e surpreende ao mostrar que uma simples música pode ter variações, e que apesar das mudanças, mantêm sua idéia original. Na seqüência estão "Breed" e a porrada "Tourette's" até que "Blew" começa a tocar. "Blew" foi o primeiro single do Nirvana lançado pela Sub Pop, e dependendo da vendagem, a banda assinaria ou não um contrato com a gravadora. Voltamos, então, ao início. O ciclo se encerra. O disco também. Uma viagem pouco emocionante, é verdade, mas válida. Se a preguiça apertar, ouça este "From the Muddy Banks of Whishkah" e navegue por este rio chamado Nirvana. Se não, há pelo menos cinco bons discos para acompanhar de perto os cincos anos de expedições musicas lideradas pela banda de Seatlle.

Boa viagem.

domingo, fevereiro 13, 2005

Esta semana:

The Arcade Fire - Funeral (2004)



Nos primeiros momentos são os aspectos teatrais que chamam a atenção em "Funeral", álbum de estréia da banda canadense "The Arcade Fire". Não apenas na performance, mas principalmente pelas histórias contadas em algumas músicas, que nos dá a sensação de estarmos frente a um palco onde atores encenam pequenas peças. Entretanto, após as inevitáveis repetições do disco, outras características marcantes do som do grupo são percebidas, e aquela primeira impressão dá lugar a algo maior e mais tocante. O pop é por excelência catártico, mas este "Funeral" consegue ir além, e, por incrível que pareça, apenas propõe problemas, mas não os resolvem - mesmo sendo a resolução o mais esperado por grande parte do público que, acostumado com um produto final redondo, talvez estranhe um pouco este trabalho.

Formado pelo casal Win Butler e Régine Chassagne, além de Richard Parry, Tim Kingsbury e William Butler, "The Arcade Fire" é mais uma banda que se une ao batalhão cada vez maior chamado "novo rock", no qual nomes como Strokes, Franz Ferdinand e White Stripes podem ser colocados na linha de frente. Lançando mão de texturas que se assemelham tanto a novata Interpol quanto o experiente Echo & The Bunnymen, a banda não poupa instrumentos ao longo das dez músicas que compõe este álbum de estréia, marcado pela morte de parentes dos integrantes durante a produção, e não por acaso intitulado "Funeral".

A maioria das músicas extrapola algumas obviedades pop e buscam não apenas sons diferentes, mas melodias complexas e situações imprevisíveis. Grande parte delas tem como característica o fato de serem crescentes, ou seja, começam tranqüilas, com vocais graves e contidos, mas ao se desenrolarem tornam-se enormemente poderosas, fazendo com que os vocais de Win Butler, antes tímidos, dominem o ambiente. "Neighborhood #1 (Tunnels)" é um exemplo desta característica, assim como "Crown of Love", na qual o tal crescente aparece na união entre o instrumental e a voz, e o desfecho é tão inesperado que no mesmo instante em que quase tira o encanto da música, causa uma estranheza apaixonante.

Entretanto, são nas canções mais calmas que percebemos a capacidade criativa da banda. Há uma enchente de instrumentos e sons que, longe de se confundirem, criam a atmosfera exata para que as vozes de Win Butler e Régine Chassagne arrebatam os ouvintes. "Une Annee Sans Lumiere", cantada parte em inglês, parte em francês, é tão capaz de emocionar com sua leveza pop quase hipnótica quanto "Neighborhood #4 (7 Kettles)", igualmente construída sobre um violão simples e criativo. "In the Backseat", faixa que fecha o trabalho, é uma peça única. Cantada por Régine, a sutileza da voz nos primeiros minutos carrega a música até seu ápice, no qual violinos, guitarras e vocalizações não pedem licença para derrubar aquela lágrima que ficou presa durante os quase cinqüenta minutos de "Funeral".

À parte o lado musical, são as letras o ponto chamativo. Por trás das melodias, da voz sinceramente aguda de Win Butler e dos backing vocals de Régine Chanssagne, esconde-se uma proposição interessante. Este não é um disco de respostas. Muito pelo contrário, propõe perguntas e questionamentos sobre os mais diversos assuntos, sempre nos colocando em situações contraditórias, e nunca indica uma conclusão. Mesmo que despropositadamente, "Funeral" nos dá apenas as partes contrárias de um mesmo assunto, deixando para nós a resolução destas oposições.

São colocadas duas idéias opostas para que a partir do debate entre elas se encontre uma nova idéia, uma síntese. Por todo este álbum o “Arcade Fire” nos mostra situações dialéticas: a vizinhança vista em pelo menos quatro canções invariavelmente nos remete a situações de solidão; em "Neighborhood #3 (Power Out)" e "Wake Up" a contraposição entre jovens e adultos é feita quase explicitamente; verdade e mentira se encontram em "Rebellion (Lies)"; e mesmo a contraposição de línguas diferentes pode ser vista nas faixas "Une Annee Sans Lumiere" e "Haiti", nas quais inglês e francês dividem a letra. Todavia, em momento algum a banda diz qual é a síntese encontrada, e este é o segredo do disco. A catarse da primeira audição dá espaço a outra mais forte justamente por encontramos nossas próprias sínteses. E mesmo aqueles que estranhem esta proposição poderão se emocionar, pois apenas os arranjos já valem o disco, e elevam o “Arcade Fire” ao posto de mais novo membro da linha de frente do novo rock.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Extra:

Nirvana - MTV Unplugged in New York (1994)



O formato acústico criado pela emissora MTV teve sua primeira edição em 1989, com a participação da banda britânica Squeeze, além dos convidados Syd Straw e Elliot Easton, da banda "The Cars". A idéia surgiu após uma apresentação de Bon Jovi e Rithcie Sambora no MTV Music Awards de 1989 tocando apenas com violões o então sucesso "Wanted Dead or Alive", e desde então grandes figurinhas do pop mundial se renderam ao formato que, no mínimo, é lucrativo. Mas, deixando de lado o dinheiro, temos apresentações antológicas no unplugged MTV, como a de Bob Dylan em 1995 ou a do Kiss, em 1996, que reuniu no mesmo palco Ace Frehley, Peter Criss, Paul Stanley e Gene Simmons após dez anos. Entre estas, não há como deixar de fora a apresentação do Nirvana, não apenas por ser a última performance televisiva de Kurt antes de sua morte, mas principalmente por sua qualidade musical.

O pensamento que rondava a cabeça de Cobain quando da gravação do programa era quase o mesmo da gravação de "In Utero": o Nirvana é uma boa banda, independente de produtores ou facilidades de estúdio. Se em "In Utero" o intuito era provar que o Nirvana ia além do sucesso óbvio de Nevermind, neste unplugged a meta era mostrar que a qualidade musical da banda estava muito além do que as poucas baladas de sua discografia. Para isso, o primeiro passo foi escolher para o repertório do show músicas que possibilitavam alcançar tal objetivo. Passeando por toda a discografia, há neste disco "About a girl" do "Bleach", "Come as you are", "Polly", "On a plain" e "Something in the way" do Nevermind e "Pennyroyal Tea", "Dumb" e "All apologies" de In Utero. O ponto em comum desta seleção está no fato de todas terem potencial para serem gravados voz e violão e ainda assim mostrar a capacidade não apenas musical, mas de se tornarem boas canções, tristes e melancólicas.

Outro ponto importante deste acústico é as participações especiais. Da mesma maneira que a banda se negou a tocar os grandes sucessos neste show, também optou por convidados que não estivessem sob os flashs. Os boatos de Eddie Vedder como convidado logo cederam lugar a confirmada presença do Meat Puppets, até então quase-desconhecida banda do Arizona. E eles participariam não apenas como convidados nas músicas do Nirvana, mas tocariam três canções próprias: "Plateau", "On me" e "Lake of fire", todas do disco "Meat Puppets II" de 1983. A psicodelia com uma pitada country que marcava o som do Meat Puppets, na voz de Kurt, ganhou um toque tão pessoal que mesmo ainda contendo as velhas características, eram outras canções, mais introspectivas, mais fortes. Há ainda mais três outras covers, "jesus don't want me for a sunbeam", música da banda Vaselines, se não a mais, uma das favoritas de Cobain, "The man who sold the world", do camaleão Bowie, escolhida por Kurt como devido a uma certa identificação com a letra, e "Where did you sleep last night", canção pertencente a Leadbelly, músico de folk da década de 1930-40, que originalmente intitulou esta canção de "In the Pines" (a mudança de título foi feito por Cobain).

A fixação de Kurt por Leadbelly (Huddie William Ledbetter - 1885 1949) aconteceu quando ele descobriu a biografia do músico. Preso algumas vezes, o cantor e guitarrista viajou grande parte do sul dos Estados Unidos tocando blues, work songs (músicas de trabalho escravo) e outros estilos. Descoberto pelo pesquisador John A. Lomax, Leadbelly gravou suas primeiras canções ainda na penitenciaria de Louisiana, gravando também seu nome na história da música negra norte americana. A primeira gravação que Cobain ouviu da música foi quando Mark Lanegan, vocalista do extinto "Screaming Trees", a gravou para seu primeiro trabalho solo. Desde então Kurt criou uma admiração tão grande por Leadbelly que dificilmente "In the pines" não faria parte deste acústico. E mesmo sendo uma canção desconhecida do grande público, principalmente para os fãs do Nirvana, ela faz por merecer estar no disco, principalmente na função de encerrar o álbum/show. Depois de quase uma hora de músicas que mexem com sentimentos dado o nível de sinceridade alcançado por Cobain, o suspiro que antecede o fim de "Where did you sleep last night" é a chave de ouro. Nada mais poderia ser feito depois daquilo.

Abraçado por uma atmosfera lúgubre, com flores, velas e iluminação em tons de azul e roxo, todas as canções, da ingênua e direta "About a girl" até depressiva "Something in the way" ganham uma carga emocional muito forte. Se a idéia de um acústico é mostrar o artista como ele realmente é, o Unplugged Nirvana cumpriu o prometido. Aquelas complicações na vida pessoal de Cobain vistas em "In Utero" cresceram exponencialmente no espaço de um ano, e culminaram neste disco de maneira tão sincera que interpretações de músicas como "Pennyroyal Tea" ou "Lake of Fire" são de emocionar mesmo que não simpatiza muito com o grupo. Muitas canções mantêm sua forma original - mesmo as covers -, por isso a interpretação de Kurt pesa tanto em um disco como este. Sim, através destes parâmetros o Nirvana parece ser banda de um homem só, mas não é por está linha que caminha o disco.

Muito embora haja canções como "Pennyroyal Tea", cantada apenas por Cobain, "About a girl" é quando percebemos que Dave Grohl não é apenas um bom baterista para músicas pesadas, mas que sua sensibilidade ultrapassa os andamentos duplicados, chegando a leves arranjos como na primeira música deste acústico. Na cover do Vaselines, Krist abandona o contra-baixo e assume o acordeão; além do trio, o disco conta com a participação do guitarrista Pat Smear, que vinha acompanhando a banda na turnê de "In Utero", e Lori Goldston no cello em oito faixas. Quer dizer, a interpretação de Kurt nos vocais é de fato peça fundamental para o disco, mas não única. E se o álbum alcança um padrão de qualidade realmente alto, se deve ao conjunto, e não a um ou outro elemento.

"Nirvana - MTV Unplugged in New York" foi lançado postumamente em 1 de Novembro de 1994, sete meses após a morte de Cobain. Exaustivamente passado pela MTV, o disco acabou marcando o fim da carreira da banda, e dando início a um processo de cultuamento que se estende até os dias de hoje. Prepulsores de um estilo, desbravadores do mainstream ou um bando de vagabundos que deram sorte? No fim das contas, nada disso importa. Se quiseram provar que tinham qualidade, melhor prova do que este unplugged não há; se quiseram ou não marcar uma geração, o fato é que conseguiram, mesmo que Kurt faça suas as palavras dos Vaselines, dizendo que "Sunbeams are never made like me".

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Maquinário pela internet:

* No Poppy Corn desta semana foram publicadas as resenhas do novo disco do Charlie Brown Jr. e Funk Como Le Gusta. Quer ver? Aqui.

* Está saindo no Whiplash as resenhas do Nirvana publicadas aqui no Maquinário. Vale visitar.

domingo, fevereiro 06, 2005

Esta semana:

Os Paralamas do Sucesso - Os Grãos (1991)



"Os Grãos" é, com certeza, um dos discos mais desconhecidos dos Paralamas do Sucesso. E razões para isso não faltam. Seja pela economia do país na época ou pela estranheza causada pelo álbum aos fãs do som mais conhecido da banda, o problema é que um bom disco como este passa longe das prateleiras dos fãs menos persistentes, e, muito embora digam o contrário, esta é uma perda considerável. Neste álbum encontramos um Paralamas que poucas vezes vimos após este trabalho, e esta é sua caracterísca mais importante. Entretanto, indo mais a fundo no álbum, encontramos muito mais do que mero experimentalismo.

O trio estava no fim da turnê do disco "Big Bang" (lançado em 1989) quando lançou o disco "Arquivo" (22 de Dezembro de 1990), esticando a turnê para o incrível número de 120 shows. E exatamente por este excessivo número de shows, quando perguntado sobre o próximo álbum, Herbert respondia que ele seria literalmente de estúdio, lançando mão de todas as possibilidades que isto pode trazer. Indo além, por vezes ele afirmou que o disco poderia ser levado para um lado mais experimental, diferentemente do dois discos anteriores. Com a turnê encerrada, os Paralamas se trancam no estúdio com o produtor Liminha e só saíram de lá em meados de 1991, com "Os Grãos" debaixo do braço. Todas as previsões das entrevistas de Herbert se confirmaram, e do grande público que acompanhava a banda, apenas uma parcela aprovou este novo trabalho, distante de tudo o que a banda havia apresentado até então.

Discussões e repercussões à parte, o disco é um dos mais interessantes da carreira da banda. A primeira faixa - "Tribunal de bar" - é uma mistura até certo ponto exagerada de samplers e outros sons que ecoavam pela cabeça de Herbert. Na verdade, a maior parte da crítica na época, além de descer a lenha no disco, disse que este era um disco de Vianna, tendo Bi e Barone como músicos de apoio. O disco continua com "Sábado", uma música sobre o tema "coração-quebrado" no estilo Paralamas que já conhecemos. "Tendo a lua" é uma das melhores composições do trabalho: letra simples, e o arranjo, que por mais experimental que possa ser, passa a atmosfera da música, singela, quase confessional. (Uma curiosidade: a frase mais bonita da faixa - "O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu" - não é de Herbert, mas estava num dos bilhetes que ele de fato jogou fora, como conta a música).

Outras faixas que chamam a atenção no restante do disco são: "Carro velho", que possui uma levada "Olodum" - já trazendo ao público a recém nascida "Axé music" - e, segundo o cantor, teve como inspiração a música "Used cars", de Bruce Springsteen no disco Nebraska; "Vai valer" é uma composição feita à partir de colagem de frases, estilo popularizado por Carlinhos Brown e encontrada na discografia dos Paralamas em músicas como "Cagaço" ("Severino" - 1994) e "Uma brasileira" ("Vamo batê lata" - 1995); "Trac Trac" - é uma cover do argentino Fito Paez, que serviu como porta de entrada ao mercado latino; "A outra rota", balada violão/piano que possui uma das letras mais bonitas do disco; e, fechando o disco, "Trinta anos", música sobre o tempo e sobre a passagem de Herbert aos trinta.

Nem é preciso dizer que este é um dos discos que menos vendeu (100 mil cópias, ganhando apenas de "Severino" - 55 mil cópias) em toda a carreira do trio. Não há como culpar o período político, a crítica ou o experimentalismo da banda, pois todos contribuíram um pouco para que tal coisa acontecesse. Entretanto, "Os grãos" é um dos mais curiosos trabalhos da banda, mostrando um Paralamas que você já conhece de um jeito que você nunca viu. De certa maneira, justiça para com o disco foi feita pela banda quando incluiu no set do Acústico MTV as faixas "Tendo a lua" e "Vai valer". Por isso, deixe de lado a preguiça ou o medo e escute "Os grãos", faixa a faixa. Talvez soe estranho numa primeira vez, mas continue, pois aí sim, "vai valer, então, vai valer".

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Extra:

Nirvana - In Utero (1993)



A fama do Nirvana alcançava altos níveis quando a necessidade de um novo disco de músicas inéditas se fazia presente. Na verdade, esta necessidade já era realidade há algum tempo, e por isso mesmo foi lançada a coletânea "Incesticide", em 1992, a fim de acalmar os fãs mais impacientes. Funcionou, mas não por muito tempo. Músicas inéditas do Nirvana pós-Nevermind eram esperadas, e mesmo que sobras de estúdios do início da carreira alegrasse colecionadores, a curiosidade de ver por quais caminhos a banda iria se enveredar era muito maior. Entretanto, por volta de 1993, o estado do vocalista - e agora ídolo - Kurt Cobain já não era dos melhores, agravado principalmente pela ultra-exposição causada pelo disco de "Smells Like teen Spirit".

Contradições e debates à parte, o sucesso incomodou não apenas a banda, mas principalmente Cobain. Avesso as conseqüências de ter vendido centenas de milhares de discos por todo o mundo, a idéia agora era fazer um disco que não desse continuidade a Nevermind, um disco sujo, que voltasse às origens. Não à toa Steve Albini foi chamado para produzir o então intitulado "I hate myself and I wanna die". Responsável pelo discos como "Surf Rosa", primeiro do Pixies, Albini produzira também Breeders, Tad e PJ Harvey. Conhecido por seu desapego a indústria fonográfica, ele seria o produtor que não faria a banda gravar um novo Nevermind e, principalmente, um novo "Smells like teen Spirit". Ou seja, exatamente o que a banda - principalmente Kurt - queria.

Apesar dos ataques de depressão, crises de choro e crises criativas de Cobain, a gravação de In Utero foi feita em pouco mais de dez dias. Seco, direto e sincero, In Utero é quase como um desabafo, e não precisa ser nenhum gênio para prever que a Geffen - gravadora da banda - não iria gostar do resultado de um trabalho como este. Após intensas discussões, o primeiro passo foi convencer a banda a mudar o título do álbum. "I hate myself and I wanna die" era um título muito forte, que causaria um certo mal estar no mercado. Convencido não só pelos executivos, mas também pelos companheiros de banda, Cobain cedeu e intitulou o disco de "In Utero", deixando o humor ironico do antigo título de lado. O segundo, e mais complicado passo, foi encontrar em meio aquelas canções um ou duas que poderiam ser os singles que levariam o álbum. Dentre todas, "Heart-Sharped Box" e "All Apologies" foram as escolhidas, e receberam um toque de Scott Litt, produtor do R.E.M, para torná-las mais acessíveis - entende-se aqui que as músicas levaram o chamado "banho de mesa", processo pela qual ela é "limpa" das sujeiras propositalmente deixadas pela banda durante sua gravação.

Em setembro de 1993 "In Utero" chegou às lojas, não vendendo tanto como Nevermind, mas alcançando ao topo das paradas muito mais rápido, afinal, o lançamento deste disco era mais do que esperado. Os pouco mais de quarenta minutos de crueza não agradaram muito aos que tinham o disco anterior como base de comparação. Além disso, muitas lojas proibiram a venda do disco devido ao título de uma das músicas ser "Rape me" ("Estupre-me"), só liberando as prateleiras quando o título foi trocado por "Waif me". Cheio de contravenções, ironias e sinceridades, "In Utero" é recheado, principalmente, de boas canções. Fugindo da fórmula que consagrou Nevermind, a auto-sabotagem de Cobain foi algo que a banda teve que lutar de tempos em tempos durante as gravações. As canções poderiam ser cruas ou diretas, mas não precisavam ser ruins, ou melhor, propositalmente ruins. Há alguns erros intencionais, como em "Frances Farmer will have her revange on Seatlle", onde uma nota escorregada serve para mostrar que somos tão humanos como Frances Farmer (atriz que foi internada num hospício), logo, suscetíveis a erros como ela, mas nada que possa comprometer o disco. Muito pelo contrário, diga-se de passagem.

Logo na abertura, a dissonância da primeira nota diz 'o disco é isso, esqueça o Nirvana verso-refrão-verso de Nevermind'. "Serve the Servents" é uma das canções mais autobiográficas do disco, pois versos como "I tried har to have a father but instead I had a dad" deixam transparecer a relação conflituosa de Kurt com Don Cobain, seu pai. Ainda no âmbito familiar, o refrão desta mesma música diz que "that legendary divorce is such a bore", retratando a influência do divórcio dos pais na vida do músico. Seguindo com o peso e as microfonias, há ainda "Frances Farmer will..." - que, como dito, é uma homenagem a Frances Farmer, atriz de Seatlle que alcançou certa fama em hollywood na década de 30, mas após isso passou por diversos hospitais psiquiátricos, se tornando uma espécie da obsessão de Kurt - "Very Ape", "Milk it" e "Radio Friendly Unit Shifter" - todas completamente dissonantes e estranhas numa primeira audição, teriam espaço garantindo no primeiro trabalho da banda -, além de "Tourette's" - música escrita e composta com base numa doença conhecida como "Síndrome de Tourrete", na qual seus portadores incontrolavelmente distribuem palavrões e resmungos.

Não menos pesadas, mas possuidoras de harmonias mais comuns, estão "Scentless Apprendice" - baseada no romance de Patrick Süskind chamado "O Perfume". A música se originou de uma linha de bateria composta por Dave Grohl, que, por sinal, é a mesma da introdução da música -, os singles de trabalho "Heart-Sharped Box" e "All Apologies", a balada "Dumb" - uma das letras mais comoventes já escrita por Kurt ao longo de sua carreira -, e "Pennyroyal Tea", talvez uma das músicas mais pesadas do disco, já que "pennyroyal" é um chá abortivo, e a letra - assim como o restante do álbum, inclusive seu título - pode ser encarada como uma necessidade de Kurt a voltar a ser bebê e evitar todo o sofrimento pelo qual vinha passando. O chá em questão o traria morto ao mundo. Além destas, há a controversa "Rape me", na qual a introdução propositalmente remete a "Smells like...", a fim de chamar a atenção do ouvinte à letra, que, conforme ressaltado pela banda no vídeo "Live, tonight, sold out", é anti-estupro.

Uma curiosidade do disco é a faixa fantasma (crediatada na edição nacional) "Gallons Of Rubbing Alcohol Flow Through The Strip", gravada nos estúdios da BMG Ariola, no Rio de Janeiro, quando da passagem da banda aqui no Brasil para o Hollywood Rock, em 1993. Outra curiosidade é que foi neste disco a primeira vez que Kurt dividiu a composição das músicas. Na verdade, foi apenas uma música, "Scentless Apprendice", creditada a Krist Novoselic e Dave Grohl, além de Kurt Cobain. Este fato demonstrava que a crise criativa de Cobain estava começando a se acentuar, e não à toa ele já começava a remexer em velhos rasunhos atrás de idéias. Ou seja, a famosa passagem de sua carta de suicício ("I haven't felt the excitement of listening to as well as creating music along with reading and writing for too many years now.") começava aqui.

O ponto é que, além de todas as controvérsias que rondam não apenas este disco, mas quase a discografia inteira, "In Utero" é um passo, o penúltimo da carreira de uma das bandas que marcaram a música na década de noventa. E talvez a primeira versão da carta de despedida de Kurt Cobain.

domingo, janeiro 30, 2005

Esta semana:

Maurício Negão - Todos os versos (2004) *



A música independente tem, devido a sua grande possibilidade de experimentação, a oportunidade de nos surpreender. Na verdade, este deveria ser o grande objetivo de todos os que se envolvem com música, mesmo que estejam presos nas amarras das grandes gravadoras: experimentar, testar, misturar, emocionar. Maurício Negão, este carioca que além de músico também é artista plástico, captou tão bem esta idéia que em "Todos os Versos", seu quinto álbum, mostra que mesmo o pop, em toda sua abrangência, ainda pode ser misturado ou experimentado. Isto já havia acontecido em "Criolina", de 2001, é verdade. Mas em "Todos os versos", além de provar todas aquelas coisas sobre o pop, ainda faz mais: ele prova que o pop ainda pode surpreender.

A característica mais importante deste novo trabalho de Maurício Negão é que todas as misturas feitas ao longo do álbum se mostram naturais. Por exemplo, Jorge Ben Jor e Jimi Hendrix são duas influências claras no som de Negão, e mesmo parecendo água e óleo, estas duas vertentes musicais convivem em plena harmonia em faixas como "Você e eu" e "Alô alô". Ou seja, lançando mão da livre possibilidade de experimentar, "Todos os versos" é o casamento ideal entre as mais diversas possibilidades de pop. Seria perigoso rotular de maneira muito objetiva a inventividade deste carioca, mas o rock-ziriguidum, o auto-intitulado estilo de Maurício Negão, talvez seja a melhor maneira de resumir em duas palavras a linha que orienta o músico.

A gama de influências que constituem "Todos os versos" é tamanha e tão variada que acaba fazendo do álbum um apanhado geral de músicas que aparentemente não possuem ligação entre si. Em alguns casos esta é uma característica negativa, pois um mesmo disco acaba soando como uma coletânea de diversos artistas diferentes, não expondo a identidade músical de seu autor. No caso de Maurício Negão, as canções, mesmo sendo independentes entre si, são auto-sustentáveis, contendo algo do músico, o que acaba fazendo do disco uma colagem de pequenas peças que não precisam, necessariamente, uma da outra. Mas, em momento algum, temos a impressão de termos vários artistas diferentes; ao contrário, vemos um mesmo artista mostrando suas mais variadas facetas.

Neste sentido, convivem pacificamente no mesmo álbum músicas como "Lindos dias" - uma balada com violões e sem muitas surpresas, mas que vale por sua delicadeza, não apenas nos arranjos, também nas letras -, e "Moça bonita" - na qual o peso das guitarras dá os parâmetros de toda a música. Isto sem levar em conta canções como "A Marcação" - uma balada eletrônica que facilmente estaria em "Falange Canibal", de Lenine -, "Qualquer lugar" - segunda parceria de Maurício Negão com Frejat que, talvez por causa disso, guarda em si muito da sonoridade típica dos anos oitenta - ou "Alô alô" - riffs de guitarra na melhor interpretação tupiniquim de Hendrix.

Figuras como George Harrison ("Lindos dias"), Jorge Ben Jor ("Você e eu"), Jimi Hendrix ("Alô Alô") e qualquer banda pop brasileira dos anos oitenta são presenças confirmadas em "Todos os versos". É claro, todas juntas, misturadas num grande liquidificador musical que também atende por Maurício Negão, e levemente temperadas com a modernidade, que dá o toque final neste trabalho. A música não deve seguir receitas, principalmente no que diz respeito ao mundo independente, afinal, é a coragem de experimentação que diferencia os bons e os maus músicos. Entretanto, se me fosse pedido algum exemplo do como deveria ser feito um som original, essencialmente brasileiro e de qualidade, minha primeira indicação seria "Todos os versos".

*Resenha publicada no site Poppy Corn

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Extra:

Nirvana - Incesticide (1992)



O Nirvana já estava em todas as paradas, capas de revistas e canais de televisão possíveis quando foi lançada a coletânea "Incesticide", em dezembro de 1992. Após o estrondoso sucesso de "Nevermind", a idéia de manter a banda sob os holofotes era perseguida obsessivamente pelos executivos da Geffen, gravadora do grupo. A lógica comercial era bem simples: até sair um novo álbum de inéditas, era necessário que o Nirvana continuasse com as paradas, revistas e televisão. Ou seja, nada de novo se pensarmos através das cartolas das grandes gravadoras, que dificilmente trazem ao mundo idéias que não escondem alguns cifrões por trás. De certa maneira, nada errado, mas o problema é que poucas vezes estas idéias trazem algo realmente interessante ao público. Talvez "Incesticide" seja uma das exceções a está regra, mas ela não foi sem querer.

A primeira investida neste sentido foi um EP com seis faixas chamado "Hormoaning", lançado apenas na Austrália e Japão em Janeiro de 1992. Com a desculpa de promover a turnê australiana da banda (e, posteriormente, a turnê japonesa), "Hormoaning" foi item de briga entre colecionadores, pois além de trazer o lado b do single de "Smells Like Teen Spirit", "Even in his youth", havia ainda a inédita "Aneurysm" e quatro covers: "Turnaround" da banda Devo, "D-7", do Wipers, além de "Son of a gun" e "Molly's lips", do Vaselines, todas gravadas no lendário programa de John Peel, na emissora britânica BBC. Ou seja, a fórmula para manter a banda em evidência funcionava, principalmente se envolvesse sobras de estúdio e covers inusitadas, acontece que a Geffen se deparou com um problema: não havia material suficiente para preencher um álbum inteiro.

Então, num acordo com a Sub Pop, primeira gravadora do Nirvana e possuidora de fitas demos de 1988 a 1990, "Incesticide" foi lançado para alegria de fãs e colecionadores e cartolas. Admirador de música como qualquer um de seus fãs, Cobain fez questão de fazer parte deste projeto, não apenas selecionando algumas músicas, como também pintando a capa do disco e emprestando seu patinho de borracha para a fotografia da contracapa. "Incesticide", além de algumas canções de "Hormoaning", possui muita coisa das demos de 1988, como "Downer" - a primeira e única música da banda de cunho diretamente político, que fez parte apenas da versão em CD do disco "Bleach" -, "Mexican Seafood", "Hairspray Queen", "Aero Zeppelin" e "Big Long Now", sendo algumas destas sobras do que se tornou "Bleach", primeiro disco da banda. Reza a lenda que estas sobras seriam o próprio “Bleach”, mas semanas antes de gravá-lo, a banda se empolgou tanto que fizeram muitas novas músicas, acabando por descartar as que já estavam prontas.

As covers do Devo, Wipers e Vaselines que constavam em "Hormoaning" voltaram a aparecer neste disco, sendo as únicas covers que compõe a tracklist de "Incesticide". Uma pena, afinal, há ótimas músicas de outras bandas tocadas pelo Nirvana nos mais variados bootlegs perdidos mundo à fora. Por exemplo, "Do you love?", do Kiss, ou mesmo a ótima "The Priest they Called Him", um conto de Willian S. Burroughs (isso mesmo, aquele beatnik), lido pelo próprio, com fundo musical altamente distorcido feito pelo Nirvana. Aí está duas dicas para que gostar de desencavar raridades. Mas não pense que se as covers pararam por ali o disco também acaba. Na verdade, logo na primeira faixa encontramos "Dive", que além de fazer parte de uma coletânea lançada pela Sub Pop em 1990 com a bobinha "Sliver" (também presente neste disco), é uma das canções mais cruas da banda. Para Cobain, “Dive” só não entrou em Nevermind pois já havia saído na tal coletânea. Difícil acreditar, pois a rispidez desta música passa longe das músicas do maior sucesso da banda.

"Incesticide" mostra, a exemplo de "Dive", um Nirvana que ainda experimentava bastante, variando entre momentos ora cru e pesado, ora estranho e dado a experimentações que passam longe da imagem construída pela banda até o fim de sua carreira. Estas características ficam explícitas pelo fato de muitas das músicas que constam neste disco serem sobras de estúdio tanto do primeiro quanto do segundo disco da banda, e não por acaso encontramos certas proximidades entre algumas composições. "Stain" é uma destas. Além de ser percebido nela uma crueza que passa longe de Nevermind, é possível ainda encontrar uma banda que ainda tateava os rumos que seguiria, usando riffs de guitarras com um pé no metal de Black Sabbath, mas já se utilizando não só de uma estrutura musical diferente, mas, principalmente, com temáticas diferentes. Além disso, "Stain" pode ser considerada parente próxima de "Negative Creep", pois cria uma imagem pessimista no desenrolar do que é cantado. Seguindo este rumo há "Beeswax" ou mesmo a estranhíssima "Hairspray Queen" - nesta encontramos as tais experimentações que nunca mais foram vistas no som da banda de Seatlle.

Um fato é verdadeiro no que diz respeito a este disco: para quem é fã, vale tê-lo ali na estante, ao lado dos demais discos da banda. Agora, caso o Nirvana se resuma a algumas canções como "Polly" ou "Come as you are", talvez este trabalho não seja a melhor maneira de conhecer a banda. Entretanto, existem músicas que agradarão a qualquer quase-fã: "(New Wave) Polly" - versão aceleradíssima, com guitarras e bateria -, "Son of a gun" - que além de ser uma cover, é uma singela canção de amor a base de distorções e microfonias -, e "Aneurysm" - uma das melhores composição do Nirvana, que abusa de vocais gritados e andamentos variados, registrando uma das baterias mais inspiradas de Dave Grohl (a versão que aparece no single de "Smells like..." e no EP "Hormoaning" é outra, gravada no começo de 1991. A que consta em "Incesticide" foi gravada no final de 1991, para o programa do também (famoso) radialista Mark Goodier).

Ou seja, é um disco que vale e não vale a pena. Depende de você.

Maquinário pela internet

* Saiu no Dying Days uma resenha do disco "The Covers Record", da Cat Power. É só clicar aqui;

* O Guia de Rock colocou uma pequena apresentação e um link para o Maquinário na seção "Blogs". Fica aqui meus agradecimentos ao Anderson, responsável pelo site.